O TEATRO DE RUA é mais do que uma modalidade de representação, é o veículo por excelência, para a busca da democratização da arte teatral no século XX. Segundo os principais teóricos do TEATRO DE RUA, o teatro produzido num espaço delimitado define a recepção, gera formas de atuação específicas e dramaturgias adequadas para tal, favorecendo o anonimato e a passividade do público, selecionando as classes sociais que passam a ter acesso ao teatro, gerando uma dramaturgia e atuação, voltadas para a textualidade. Essencialmente, “um teatro que sai da sala escura e vai onde o povo está”, aproxima-se da “humanidade cotidiana” ao realizar montagens em espaços públicos, com temas de interesse coletivo, envolvendo diferentes classes sociais, numa situação espetacular em que o público pode manifestar-se diretamente. Tal proposta leva a um questionamento da atividade teatral em todos os seus aspectos: a atuação busca renovar o gesto e dilatar a potencialidade do corpo e da voz; a encenação volta-se para a plasticidade e ocupação de espaços abertos, com códigos que valorizem a multiplicidade, a agilidade e transformação perante o espectador. Na rua, a dramaturgia retoma o caráter improvisacional, incorporando a participação do público e buscando linguagens que valorizam a oralidade cotidiana. Além disso, enfatiza-se a reflexão sobre a ética e política da arte teatral, repensando a relação entre o artista e a sociedade.
Se o teatro realizado em espaços públicos pode ser visto como ato de participação e cidadania, o aspecto de reunião festiva também é considerado fundamental. A noção de Festa seria o aspecto que perduraria ao longo da história do TEATRO DE RUA. Mesmo que, desde sua origem, o evento teatral tenha se definido pela construção de um edifício, o TEATRO DE RUA coexistiria paralelamente na forma de paradas, espetáculos de feira ou nas festividades produzidas pelas comunidades. O TEATRO DE RUA atual busca a união desses dois modelos: participação social e celebração festiva coletiva. Este é o ideal expresso por Eugenio Barba no MANIFESTO DE TERCEIRO TEATRO, no qual o “espetáculo que sai para a rua é uma pesquisa que se abre para o diálogo cultural, em que o artista troca com o espectador, ao mesmo tempo em que redefine sua própria identidade”.